“O discurso do Presidente da República não foi num registo apropriado a uma tomada de posse. Pareceu-me excessivamente cruel no diagnóstico e pouco ousado na terapêutica”. Foi esta a opinião expressa por Carlos César aos jornalistas após o discurso de tomada de posse de Cavaco Silva para o segundo mandato como Presidente da República.Após a cerimónia que decorreu hoje na Sala de Sessões da Assembleia da República, o Presidente do Governo dos Açores acrescentou que “do ponto de vista dos Açores e da Madeira, entramos como saímos. Não houve nenhuma referência especial às questões autonómicas. Tenho muita pena. Talvez seja a primeira vez que um Presidente da República toma posse sem fazer uma referência valorizadora das experiências autonómicas, mas o que interessa é que não faça depois, no exercício do seu mandato, uma acção desvalorizadora dessas mesmas autonomias”.Em todo o caso, Carlos César considera que “há algumas frases no discurso do Senhor Presidente da República que podem permitir que o país tenha esperança, que ele possa contribuir activamente para uma concertação entre os parceiros sociais, com o Governo, com os partidos políticos, para que haja um rumo certo e um rumo seguro no sentido da satisfação dos compromissos mais emergentes que o país tem em matéria orçamental, designadamente”.Reforçando a sua opinião geral sobre o discurso de Cavaco Silva, Carlos César disse ainda que “é muito fácil fazer um discurso a realçar o que se passa de negativo no país, e infelizmente há muitos aspectos negativos e frágeis na nossa economia, na nossa sociedade, há problemas de pobreza, há problemas estruturais que são de todos conhecidos, mas o que se espera de um Presidente da República, quando é tão cruel a fazer esse diagnóstico e a evidenciar esses aspectos negativos, é que seja ousado e prometedor no que diz respeito às medidas que fazem essa transição para o mundo novo que o Presidente da República, como todos nós, certamente deseja para o nosso país”.Embora essas medidas não sejam responsabilidade do Presidente da República, há outras matérias que o são, salienta Carlos César: “a cooperação com o Governo não é uma medida, a estabilidade também não é uma medida. São, digamos, ambientes instrumentais para se melhorar o país”.“Eu penso que o país não saiu mais unido nesta tomada de posse. E, de resto, seria uma boa praxe que os partidos políticos representados no parlamento, pudessem rever-se de forma, não mais apaixonada, mas pelo menos mais integrada no discurso do Presidente de todos os portugueses”, concluiu o Presidente do Governo dos Açores.